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Brahmacarya, ou conduta sexual adequada
Quando o assunto é sexo as possibilidades são infinitas. Nosso tempo tem se mostrado um tempo de revisão e mudança de paradigmas nesse aspecto e a diversidade tem encontrado seu lugar ao Sol. É claro que esses também são os momentos em que o velho paradigma se chacoalha e quer se manter a qualquer custo… moribundo, o grupo que sustenta as antigas ideias quer se levantar e caminhar e quanto mais vê o novo desfilando suas novas cores pelas praças, mas se alvoroça a querer destruí-lo. Pobres coitados que vivem do passado e não são capazes de celebrar a vida, o amor, a transformação.
Falo isso para que não haja nenhum tipo de confusão sobre a ideia de “conduta sexual correta” proposta pelo Yama de Brahmacarya e “orientação sexual correta”, coisa que existe tanto quanto o saci-pererê.
Brahmacarya refere-se no Yoga à conduta sexual que não fere, não traz malefícios a si mesmo e aos outros. Esse refreamento sexual é em muitas tradições aproximado da noção de celibato, mas não necessariamente se deva seguir com essa prática no caminho da iluminação. O celibato e o desprendimento do prazer sexual são sim um caminho, mas não o único. O que não se deve é manter práticas sexuais que possam de alguma forma gerar o mal para alguém.
Se hoje no Brasil há cada 7 minutos as autoridades recebem uma denúncia de estupro e estima-se que apenas 40% dos casos chega às autoridades, você pode imaginar como as coisas eram na época que Patãnjali escreve os Yoga Sutras. Até hoje a Índia e os países vizinhos tem uma questão muito séria a ser resolvida em relação às mulheres. E no caminho da iluminação, deve-se observar a conduta correta de não se causar malefícios aos outros. Parece óbvio, mas não é. E isso não apenas por causa do alto índice de violência sexual, mas pela nossa cultura que é violenta, principalmente com as mulheres.
A cultura em que vivemos tem inúmeras formas de violência moral e simbólica que se relacionam com a conduta sexual. Constranger uma pessoa na rua, entender que as relações entre homens e mulheres só podem ser mediadas por interesse sexual, manter relações de propriedade com outra pessoa, manter relações sexuais sem responsabilidade emocional, mentir ou enganar para conseguir “se dar bem” no fim da noite… tudo isso fere o Yama de manter uma conduta sexual correta.
A sexualidade precisa ser uma forma de manifestar o que há de melhor em cada um de nós. Não pode ser à toa que o produto natural dessa relação é um novo ser humano… a natureza sabe o que faz. Se colocou isso como uma necessidade para a sobrevivência da nossa espécie, deve haver algo de muito especial nisso. Com isso não se entenda que você deva esperar A pessoa especial, o príncipe ou a princesa encantada… não, não é isso. Brahmacarya pode ser observado mesmo em uma relação de apenas uma noite… a sexualidade deve expressar aquilo que temos de melhor, de especial. Deve ser um caminho também para o conhecimento de si e do outro. Nunca um caminho para manifestar a violência e o descuidado. Conduta sexual correta é poder manifestar o amor nas nossas relações. E se manifestamos o amor, o sexo volta a ser o que deve ser: a realização da nossa mais bela natureza.


